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  • NARCISO: A DINÂMICA DA PERSONALIDADE DE ECO
    Friday, May 12, 2006



    O que une de forma muito profunda Jung à Mitologia é o conceito de Inconsciente Coletivo e seu principal conteúdo: o Arquétipo.Inclusive um dos fatores que levou Jung ao conceito de inconsciente coletivo foram seus anos de estudo de mitologia, pela qual ele ficou completamente fascinado:

    “........estudei um amontoado de materiais mitológicos e gnósticos, para enfim chegar a uma desorientação total. Senti-me tão desamparado como outrora, na clínica, quando tentava compreender o sentido dos estados psicóticos. Tinha a impressão de estar num asilo de alienados imaginários e comecei a “tratar”todos esses centauros, ninfas, deuses e deusas,do livro de Creuzer, a analisá-los como se fossem meus doentes...”

    “..... passei as minhas noites imerso na história dos símbolos,i.e., na mi-
    tologia e na arqueologia..........aqui se encontram fontes valiosas para a fundamentação filogenética da teoria da neurose...”

    A partir do estudo de Mitologia Comparada, de Religião Comparada ( mitos e religiões sendo vistos como expressões espontâneas da psique humana), da observação de pacientes psicóticos ( Jung trabalhou em hospital psiquiátrico durante nove anos e o paciente psiquiátrico se caracteriza pela substituição do mundo da realidade pelo do inconsciente), olhando para seus próprios sonhos (expressão do inconsciente) e sonhos de seus pacientes “normais”, Jung conclui que as imagens produzidas espontaneamente pela psique em sonhos, fantasias e mitos, são semelhantes em sua forma e estruturação e a partir daí postula a existência de uma camada psíquica igual a todos os homens, capaz de gerar imagens semelhantes, imagens típicas de seres humanos.

    “Nossas opiniões, pensamentos e convicções são produtos de uma cama da psíquica na qual se produzem os mitos. Esse estrato criador de mitos funciona como nossos sonhos........As imagens produzidas pela psique - podem ser altamente pessoais, mas o drama em nosso palco interior costuma ser uma encenação do drama humano geral. Os artistas e os sábios sempre souberam disso. Nossos problemas particulares - nascimento, morte, relacionamentos, conflitos e a busca de significado - são problemas humanos. Quem estiver passando por um deles tem chance de perceber que essa experiência é uma versão de imagens grandiosas que simbolizam o modo como a humanidade sempre vivenciou esse problema. Jung
    chamou de arquétipos essas imagens atemporais. São dinamismos que fornecem padrões de comportamento, de emoção e de experiências pessoais que transcendem a história pessoal.......Pode-se considerar os mitos como sonhos coletivos e recorrentes da humanidade.”


    Devido a essa ligação imensa entre a Psicologia Analítica e a Mitologia sinto ser possível traçarmos um paralelo entre a personalidade mítica de Eco e alguns conceitos básicos de Jung; ou olharmos para a dinâmica do mito através de um olhar junguiano que por natureza tende a dar espaço ao mito e ver a necessidade de compreendermos o mito até para que nos conheçamos.

    “E o mito? O mito refaz a história da origens, história sagrada. Se das origens, universal.
    Quanto mais primitivo, mais de todos. Todos vimos nossa imagem refletida em alguma superfície lisa algum dia e ficamos perturbados. Os contornos refletidos são os nossos? Vemos outro ou vemos a
    nós mesmos? Por isso Narciso nos interessa, por isso é que ele é histórico. “

    Poderíamos dizer o mesmo de ECO...quem não viveu um amor impossível? Um amor tão centrado no outro que justo por isso não pode ser amor? Quem não apenas ecoou palavras?Ficando sem identidade, ficando sem fala! Parafraseando Donaldo Schuler, podemos dizer que Eco nos interessa, que é historicamente psicológica.
    A forma mais natural de chegarmos ao mito de ECO talvez seja através do mito de Narciso, que foi o seu grande amor. Há alguns autores junguianos que se dispuseram a falar
    sobre o mito de Narciso e Eco, entre eles: Murray Stein ,Patricia Berry, e Nathan Schwartz
    Salant; como suporte dentro da Mitologia Grega e ensaios, optei por Junito de Souza Brandão e Donaldo Schuler e como, em se tratando de Narciso e Eco, não poderia deixar de lado: Ovídio em “As Metamorfoses”.

    “ A versão mais completa de Narciso foi a narrada por Ovídio.”

    “A estória do jovem Narciso vem da antiguidade em várias variações.
    A principal , e a mais detalhada, aparece nas Metamorfoses
    de Ovídio. Porém, em qualquer forma que apareça, esta é uma
    estória cujo principal tema é o amor e a paixão frustrada. Pertence às estórias de Eros, como uma das complicações dentro das
    complexidades do amor erótico.”


    Portanto,
    * Narciso,Eco ( por Ovídio):

    Tirésias, cuja grande fama se espalhara pelas cidades da Aônia, dava respostas infalíveis às pessoas que o consultavam. A primeira a experimentar a veracidade de suas palavras foi a cerúlea Liriope, que outrora o Cefiso enlaçara nas curvas de seu curso, e, uma vez presa, a violentara. Belíssima, engravidou-se e deu à luz um filho , já então digno de ser amado pelas ninfas,a quem chamou Narciso. Consultando a seu respeito, se o menino viveria muito, se teria uma velhice prolongada, o adivinho respondeu: “Se não se conhecer”.Por muito tempo as palavras do áugure pareceram destituídas de sentido. Mostraram seu acerto a maneira com que se desenrolaram os acontecimentos, o modo como morreu Narciso e a estranheza de sua loucura.O filho de Cefiso tinha, então, dezesseis anos, e podia ser tomado tanto por um menino como por um moço. Muitos jovens e muitas jovens o desejam, mas - tanta tão rude soberba acompanhava suas formas delicadas -
    nenhum jovem, nenhuma jovem o tocara. Quando olhava os trêmulos veados apanhados nas redes, a ninfa de voz sonora, que não responde pelo silêncio a quem lhe fala, e nem fala em primeiro lugar, a ressonante Eco, o viu. Eco tinha, então, um corpo, não era voz apenas; no entanto, já era loquaz e usava da boca, como ainda hoje, para repetir a última de muitas palavras, como faz agora. Juno foi a causadora, pois, quando tinha oportunidade, muitas vezes, de surpreender ninfas deitadas na montanha com seu Júpiter, a esperta Eco a detinha, conversando muito, enquanto as ninfas fugiam. -
    Percebendo tal coisa, disse a filha de Saturno: “Com essa língua, que tanto me fez ser iludida, pouco poderás fazer e terás um uso brevíssimo das palavras.”E executa a ameaça: quando alguém acaba de falar, Eco só pode repetir o que ouviu.
    Então, quando ela viu Narciso andando sem destino pelos campos, e se apaixonou, seguiu-lhe os passos furtivamente; quanto mais o segue, mais se aquece ao calor da chama, do mesmo modo que o
    inflamável enxofre, com que se reveste a extremidade das tochas, se queima ao aproximar-se do fogo. Quantas vezes ela quis aproximar-se, com palavras carinhosas, e dirigir-lhe ternas súplicas! -
    Sua natureza a impede de falar em primeiro lugar. Permite-lhe, porém, e ela se dispõe a isso, esperar os sons e devolver-lhe as próprias palavras.
    Por acaso, o adolescente, separado do grupo fiel de seus companheiros, perguntara: “Aqui não há alguém?” “Há alguém”, respondera Eco. Ele se admira, e olha em torno. “Vem!”, grita muito alto;
    Eco repete o convite. Ele olha para trás, e, não vendo ninguém aproximar-se, pergunta: “Por que foges de mim?”E ouve as mesmas palavras que dissera. Insiste,e, iludido pela voz que responde à sua,convida: “Vem para junto de mim, unamo-nos!”A nada Eco respondera com mais boa vontade: “Unamo-nos!”Ajunta o gesto à palavra e, saindo da floresta, avança para abraçar o desejado. Ele foge, e diz, ao fugir: “Afasta-te de mim, nada de abraços! Prefiro morrer, não me entrego a ti!”Eco repetiu
    somente: “Me entrego a ti!”
    Desdenhada, esconde-se na floresta e protege com flores o rosto corado de vergonha,e, desde então, vive naquelas grutas isoladas.Seu amor, no entanto, é perseverante, e cresce com a amargura da recusa. As preocupações incansáveis consomem seu pobre corpo, a magreza lhe encolhe a pele, a própria essência do corpo se evapora no ar. Sobrevivem, no entanto , a voz e os ossos. A voz persiste; os ossos, dizem, assumiram o aspecto de pedra. Assim, ela se esconde nas florestas, e não é vista
    nas montanhas. É ouvida por todos; é o som que ainda vive nela.
    Assim Narciso decepcionara Eco e outras ninfas nascidas nas águas e nos montes, e, antes delas, -
    outros jovens. Despeitado, um deles ergueu as mãos para o céu, exclamando: “Que ele ame, por sua vez, e não possa possuir o objeto amado!”disse. A deusa de Ramnonte atendeu a essa justa prece.
    Havia uma fonte de água muito pura, brilhante e prateada, da qual jamais haviam se aproximado os pastores nem as cabras que pastavam na montanha, nem qualquer outro gado, que jamais fora perturbada por qualquer ave, por qualquer animal selvagem, por qualquer ramo caído de uma árvore.Era rodeada pela grama, que chegava até junto da água, e a floresta impedia que o sol esquen-
    tasse o lugar. Ali, o adolescente, cansado pelo esforço da caça e pelo calor, estendeu-se no chão, atraído pelo aspecto do lugar e pela fonte. Mas, logo que procura saciar a sede, uma outra sede surge dentro dele. Enquanto bebe, arrebatado pela imagem de sua beleza que vê, apaixona-se por um reflexo sem substância, toma por corpo o que não passa de uma sombra. Fica extático diante de si -
    mesmo, imóvel, o rosto parado, como se fosse uma estátua de mármore de Paros. Deitado no chão,contempla dois astros, seus olhos, os cabelos dignos de Baco e de Apolo, o rosto imberbe, o pescoço ebúrneo, a linda boca e o rubor que cobre a cútis branca como a neve. Admira tudo, pelo que é admirado ele próprio. Deseja a si mesmo, em sua ignorância, e, louvando, é a si mesmo que louva.
    Inspira a paixão que sente, e, ao mesmo tempo, acende e arde. Quantas vezes beijou em vão a água enganosa! Quantas vezes, para abraçar o pescoço que via, mergulhou os braços na água, sem conseguir abraçar-se! Não sabe o que vê; mas o que vê o inflama, e o mesmo erro que ilude seus olhos lhe excita o desejo. Crédulo, o que consegues com esses vãos esforços? Não existe o que procu-
    ras. Afasta-te do que amas, e o verás desaparecer. Essa sombra que vês é o reflexo de tua imagem. Nada é por si mesma. Contigo, ela aparece e permanece; com tua partida desaparecerá, se tiveres a coragem de partires.
    Nem os cuidados com a alimentação nem com o repouso, todavia, podem afastá-lo dali; estendido na espessa relva, contempla, insaciável, a imagem mentirosa, e perde-se devido aos próprios olhos.
    Erguendo-se um pouco, estende os braços para a floresta que o cerca. “Alguém, ó floresta, sentiu mais cruelmente o amor?”, pergunta. “Vós os sabeis e, para muitos, fostes um oportuno refúgio. Vós, cuja existência atravessou tantos séculos, lembrais, durante todo esse longo tempo, de alguém
    que tenha sofrido assim? Estou apaixonado, e vejo, mas não posso alcançar o que vejo e me seduz; a tal ponto erro como amante. E, para agravo de minha dor, não nos separa nem o mar imenso, nem a
    distância, nem montanhas, nem muralhas com portas fechadas, mas uma simples camada de água. Ele próprio aspira a ser possuído, pois cada vez que beijamos a água cristalina, ele procura atingir com a sua a minha boca. Dir-se-ia que podes tocá-la, tão pequeno é o obstáculo que nos impede de amarmo-nos. Sejas quem fores, vem! Por que me engans, jovem sem-par? Aonde vais quando te procuro? Certamente, não tenho uma aparência ou uma idade para te fazer fugir. As ninfas também me amaram. Em teu rosto amigo promete-mes não sei qual esperança, e quando te estendo os braços , estendes, por tua vez, os teus; quando sorrio, sorris; também muitas vezes vi correrem lágrimas dos teus olhos quando eu chorava; a uma inclinação de cabeça, respondias da mesma manei
    ra;e, tanto quanto posso adivinhar pelos movimentos de tua linda boca, dizes-me palavras que não chegam aos meus ouvidos. Somos o mesmo! Não me iludo mais com a minha imagem. É por mim que ardo de paixão e sinto e ateio ao mesmo tempo esse fogo. Que fazer? Ser rogado ou rogar? E o que, de agora em diante, poderei rogar? O que desejo está comigo; a riqueza me faz pobre. Oh! se eu pudesse separar-me do meu próprio corpo! Desejo desusado em um amante, queria estar separado do que amo! E já o sofrimento abate o meu vigor, não me resta muito mais tempo a viver e me extingo na flor da idade. A morte não me assusta, pois com a morte aliviarei o sofrimento. Para aquele que amo desejaria vivesse mais. Agora, exalaremos juntos o último suspiro.”
    Disse, e, com a razão perturbada, voltou à mesma contemplação. As lágrimas turvaram as águas e, no lago agitado, a imagem se tornou indistinta. E, ao vê-la desfazer-se, ele gritou: “Para onde foges?
    Fica, não me abandones, cruel, eu que te amo! Que me seja permitido olhar o que não posso tocar e alimentar a minha triste loucura”. Enquanto se lamenta, abre as vestes, desde o alto, e esmurra o peito nu com as mãos esculturais. Com as pancadas, o peito se tinge de vermelho, como acontece com as frutas, que, alvas em parte, em parte enrubescem, ou como, nos cachos variegados, a uva, ainda verde, se colore de púrpura. Quando o viu, na água cristalina de novo, não pôde suportar por mais tempo, mas, como costumam se derreter a loura cera ao leve calor do fogo ou o orvalho matinal ao morno sol, assim, esgotado pelo amor, ele definha, e um fogo secreto o consome, pouco a pouco. Agora, sua cútis já não oferece a alvura misturada ao rubor; nem restam o vigor e o ânimo que seduziam os seus olhos; nada resta do corpo que outrora Eco havia amado. Essa, ao ver tal coisa, embora ainda ressentida com o agravo, apiedou-se, e todas as vezes que o infortunado adolescente exclamava “Ai!”, ela repetia “Ai!” Quando as mãos lhe esmurram os braços, ela repetiu com sua voz o ruído das pancadas. Foram as últimas palavras de Narciso com os olhos postos naquela água já tão conhecida: “Ah, querido em vão!”, e o local devolve todas as palavras. E dizendo “Adeus!”, responde Eco “Adeus!” Ele repousa na verde relva a cabeça fatigada, e a noite fechou-lhe os olhos cheios de admiração pelo dono. E mesmo depois de ter sido recebido no inferno, ainda se olhava na
    água do Estige. As náiades, suas irmãs, choraram em altas vozes e depositaram os seus cabelos no túmulo do irmão; choraram as dríades; Eco repete os seus lamentos, e elas já preparavam a pira, as tochas e o féretro. Em lugar do corpo, acharam uma flor dourada, rodeada de folhas brancas.



    * Eco ( por Junito Brandão):

    ... Eco é uma ninfa dos bosques e das fontes, em torno da qual se organizou uma pletora de mitos
    que visam explicar a origem do eco. Perseguida pelo lascivo Pã, a quem não amava, mas apaixonada por um Sátiro, que a evitava, acabou sendo despedaçada por pastores como punição à afronta perpetrada contra seu protetor, o deus Pã. O grande amor de Eco, todavia, foi o mais belo dos efebos, Narciso. Eco o seguia aonde quer que se dirigisse o jovem filho da ninfa Liríope. Um dia, Narciso a viu e a repeliu tão friamente, que Eco se isolou , fechando-se numa dolorosa solidão.
    Por fim, deixou de alimentar-se e definhou, transformando-se num rochedo, capaz tão-somente de repetir os derradeiros sons do que se diz.......

    O que podemos dizer da personalidade de Eco após termos olhado tão de perto para sua estória? uma estória de amor SEM um final feliz? Um amor impossível, incompleto. De acordo com Patrícia Berry, a beleza de Eco é o sofrimento, a aflição, a tristeza; e neste
    sentido fazem parte de emoções extremamente humanas:

    “... a beleza de Eco é igualmente um sofrimento e uma certa passividade.Quer dizer, é um sofrimento por algo além das fronteiras de si-próprio ou do ego. Relaciona-se com o latim “passio”, e o Grego “pathos.”Esta paixão é como um gosto ou um toque em tudo aquilo que é mais pungente porque não é real. Ou uma das mais preciosas paixões devido à dor de sua não-consumação. Nada no mito de Eco e de Narciso se realiza - não há um final feliz - pelo menos num sentido comum. O foco do mito é a paixão não-realizada ( Eco por Narciso e Narciso por seu reflexo).[...]Na estória de Eco e Narciso não há uma consumação no sentido comum. Mas há um tipo de consumação de si próprio na morte, a consumação do complexo dentro de sipróprio.”

    Realmente, ambos foram consumidos pelo fogo de suas próprias paixões, suas próprias pathòs, suas próprias patologias, seus próprios complexos, suas próprias dificuldades em se comunicarem consigo próprios e portanto, com o Outro:

    “A incomunicabilidade incendeia, mutila, destrói. Narciso e Eco defi-
    nham acometidos da mesma doença. Narciso e Eco definem os limites do homem: a palavra não atravessa a rocha, os reflexos congelam na imagem. Na rigidez, Narciso e Eco traçam símbolos da morte.”


    Após termos conhecido o mito de Eco acredito poder iniciar um “passeio”pela personalidade de Eco, quais seriam suas características, suas dificuldades, suas doenças e suas belezas – enfim, sua “psicodinâmica”:
    Para Murray Stein, Eco é completamente Extrovertida , de forma extrema. Ou seja, sua energia estaria quase que completamente dirigida para o objeto externo ( no caso Narciso), ficando sem vida interior, sem comunicação consigo própria que deveria ser feita pela introversão,que nela, não encontra energia. Stein ressalta a contribuição de Jung no sentido deste valorizar a introversão ( talvez excessiva em Narciso) como uma compensação para uma extroversão excessiva de nossa sociedade , compensação esta que teria como consequência uma saúde e objetividade do mundo interno, um maior equilíbrio.
    Porém, Eco não faz esse movimento e sim apaixona-se por seu oposto, o enclausurado em si próprio: Narciso; projetando assim nele o que deveria em si desenvolver.
    Não nos esquecendo de que Eco torna-se uma extrovertida extrema por ecoar somente os sons do mundo externo, fruto do castigo recebido de Hera.
    “O uso psicanalítico da figura de Narciso dirige atenção à sua psicopatologia, também para o potencial patológico da introversão. Não que a extroversão também não possua uma possibilidade patológica ( mania), como foi exemplificado pela companheira de Narciso em Ovídio: a ninfa Eco:uma extrovertida extrema, ela não possui vida interior própria mas meramente ecoa os sons do mundo externo. Se esta ( a introversão) foi uma das mais magníficas contribuições de Jung para indicar a saúde e a objetividade do “mundo interno” e esta conduzir a um balanço contra nossa usual -
    supervalorização da extroversão[...].”

    Eco é condenada a somente repetir sons externos pelo que fez à Hera, ou seja, acabou tomando partido de Zeus nas eternas brigas pelo poder que acontecem entre este ca-
    sal divino. Inclusive ela foi a escolhida por Zeus para distrair Hera até por ser uma jovem muito loquaz, de novo sua extroversão... A partir deste episódio no mito podemos visualizar várias características de Eco:

    - a inevitável dependência dos deuses:

    “A ninfa poderia ter tomado o partido de Juno; preferiu, entretanto, o de Júpiter e sofreu as consequências. Se tivesse denunciado Júpiter, não teria tido sorte melhor.
    Dois sistemas se opõem: a monogamia e a poligamia...”

    - sua ligação com o arquétipo do pai:

    “Mas devemos recordar as circustâncias no âmbito da qual ela foi reduzida a um eco. Hera foi responsável por isso, da mesma forma como havia cegado Tirésias. E, em ambos os casos, havia um problema de poder em jogo, entre Hera e Zeus. Assim sendo, há , ao lado da forte constelação materna negativa, no contexto inconsciente de Narciso, um contexto similar na condição de Eco.
    Num certo sentido, Eco transforma-se numa espécie de irmã, “tudo, exceto mãe”. Ela está a serviço do Pai, alienada do arquétipo da mãe. Sua condição final como voz sem corpo é característica da alienação maternal e constitui uma razão pela qual seu eco é ineficaz.
    O conflito masculino-feminino, que tanto domina a etiologia de Narciso, domina igualmente a de Eco.”

    - a inconsciência de sua essência feminina:

    A partir do que vimos até o presente momento, Eco estaria inconsciente de sua essência que é feminina, talvez por isso não consiga encontrar-se no amor, já que não conhece a si própria. Além do fato de “ecoar”uma fala vazia, um eco que não faz sentido,ecoa o seu vazio.
    Poderíamos distinguir dois tipos de eco, aquele que nada diz e aquele que ressoa o mais profundo de nossas almas, aquele que “bate fundo no peito”. Acredito que para fazer sentido, a pessoa que esteja fazendo o eco precisa conhecer muito a si própria e estar sintonizada no outro. Existe o ecoar como uma resposta oca ( a de Eco do mito) e o ecoar como um processo de reflexão empática, que somente conseguimos quando estamos enraizados em nós mesmos a ponto de sentirmos como o outro nos toca. Eco,porém, estava
    muito distante de si própria, muito distante de seu corpo, muito distante da mulher em si mesma. Curioso pois as ninfas são divindades femininas, ligadas ao matriarcado:

    “ ... as ninfas seriam reminiscências da era matrilinear, cuja divinda-
    de primordial era a Terra-Mãe, enquanto a mulher seria a figura
    religiosa central. Nesse caso, as ninfas, divindades secundárias, po
    deriam ser consideradas uma extensão da própria energia telúrica,
    a saber, divindades menores que representam Géia, a grande Mãe-
    Terra em sua união com a água, elemento úmido e fecundante. Tu
    do leva a crer que sim, pois, da união desses dois elementos,terra
    e água, surge a força geradora que preside à reprodução e à fecun-
    didade da natureza tanto animal quanto vegetal. Desse modo, as ninfas são a própria Géia em suas múltiplas facetas, enquanto matriz de todos os seres e coisas, enquanto grande deusa, cujas energias nunca se esgotam. Por tudo isso só podiam ser divindades femininas da eterna juventude.”[13]

    - Justo por sua ligação com o feminino por ser uma ninfa , esta passagem nos revela um lado seu a serviço da fertilidade.

    “Enquanto Eco conversa com Hera na passagem de Ovídio, no pano
    de fundo ocorre a fertilidade do amor-livre ( Zeus fazendo amor com
    as ninfas). As palavras de Eco encobrem coisas, escondem coisas da
    consciência de Hera, torna possível atividades por baixo daquilo que
    é esperado, da ordem manifesta. Então palavras, palavras de Eco,
    tornam possíveis ao mesmo tempo uma certa fertilidade oculta.[...].
    Dentro das palavras, por trás das palavras, Zeus está sempre fazendo amor com as ninfas.Enquanto se fala,coisas férteis, procriativas,“ecoantes” também estão ocorrendo por trás dos panos.”

    Realmente , a maior parte dos descendentes de Zeus e consequentemente formadores da mitologia não são filhos de Zeus com Hera!
    Acredito que por trás da ordem( aqui simbolizada por Hera), por trás da consciência, daquilo que é claro e estabelecido existe também um mundo muito fértil, podemos então falar do próprio inconsciente: que nos fala através de uma fala aparentemente sem sentido, porém sedutora, fértil se buscarmos o seu pano de fundo. Antes de ter sido punida por Hera talvez a fala de Eco, apesar de aparentemente vazia, estivesse a serviço até de “relaxar” um
    pouco Hera , tirá-la de sua possessividade com relação a Zeus que não possibilitava a ela um maior autoconhecimento.
    Não nos esqueçamos que, como ninfa, Eco possui uma ligação com o mundo das águas, um dos grandes símbolos do inconsciente e tida , a água, como um “relaxante” por natureza.Realmente, o contato com o inconsciente acaba por desfazer conceitos rígidos e estreitos da consciência, nos tornando mais à vontade conosco.
    Porém , Eco foi punida. Punida na fala.

    “Juno, quando ofendida , mutila. Feriu Baco na razão; Tirésias, na
    visão; Eco, na fala.”

    Teria então ficado Eco:descentrada,dependente, somente responsiva e mímica?

    “Eco agride uma divindade central. Punição: o descentramento.
    A sentença condena Eco a viver à margem de quaisquer falantes. Na desventura de Eco não se espelham todos os que vivem à margem de instâncias centrais, condenados a ser eco de palavras ouvidas?”

    Há pouco havíamos falado sobre este “descentramento”, quando falávamos sobre o fato de Eco ser uma “moça” muito distante de sua essência . É como se Eco houvesse sofrido uma perda da alma, ou seja, “um rompimento do relacionamento com a própria vida psíquica individual.”
    Eco comete uma hybris, até porque as ninfas são divindades secundárias da mitologia, não habitam o Olimpo e Eco indiretamente confronta Hera, que é a divindade por excelência.
    De certa forma, a punição de Hera a faz lembrar, e sempre, do quão secundária é, do quão dependente é.
    “A maldição de Juno revela uma das qualidades da ninfa, a de ser
    dependente. Vivendo em montes, vales, fontes e bosques, as ninfas acompanham entes como sombra ou como eco. A Eco só é -
    consentido falar como eco, som sujeito a outros sons. Ao deter
    os passos de Juno, Eco incorre na insolência de ousar erguer-se
    da situação de objeto a sujeito.

    Eco somente responde aos sons externos, não pode dizer nada daquilo que deseja, que sente,precisa que o outro comece; tornando-se então uma “imitadora”?! Mas, chama-me a
    atenção o fato de que ela “seleciona” algumas frases que sinto caberem bem ao seu propósi to de mostrar a Narciso o quanto ela o ama...
    Será que nossas repetições ( todos temos palavras que são recorrentemente utilizadas) não são tentativas de nossa alma de se expressar, de se fazer visível?!)

    “ ... em nosso comportamento diário, todos nós repetimos. Vira e mexe contamos as mesmas histórias. Todos temos certas frases que não conseguimos parar de dizer. E estas repetições são completamente embaraçosas, porque elas mostram nossa falta de originalidade. Ninguém quer ser um Eco. Mas o que é isso que não tomamos cuidado para não repetir? Há algum investimento profundo em nossas repetições algum amor por elas? Há alguma beleza nelas? O decorar repetição leva ao coração, vem do coração - é profundamente – arraigado.
    Aquilo que amamos, aquilo que desejamos, conta algo sobre nós mesmos. Até nossos maneirismos, nossas perspicazes frases, nossas singularidades verbais e comportamentais estão contando. “Entende o que quero dizer?” Repito como se fosse crucial saber, ser conhecido por mim mesmo. Repetições são buscas por Narciso, por auto-reflexão.”


    Talvez a “beleza”do eco esteja justamente nesta possibilidade de auto-reflexão, de tanto repetir e ao olharmos para esta repetição algo descobriremos de nós ou dos outros. Para a Psicologia isso torna-se extremamente importante, prestar atenção às repetições e aos ecos:

    “ Em psicoterapia é importante notar o que ecoa e como. Algumas coisas ecoam vazias (como nas peças de Pinter), algumas coisas ecoam muito cheias ( como um pesado poema simbólico), algumas coisas ecoam mais rasas do que grandes ( como melodrama), e algumas coisas não ecoam nada - como jargões, ditos ou interpretações.
    (“Eu tenho o sentimento como função inferior, um complexo
    materno, um complexo edípico”.Sim, e daí?)”

    Uma das melhores formas de mostrarmos ao outro como ele é, talvez seja “ecoando” seus gestos. Uma das melhores formas de nos conhecermos é prestar atenção em como os outros nos “ecoam”.
    Nos ecos de Narciso em Eco podemos pensar não somente em mímica vazia, até porque as falas apaixonadas são sempre as mesmas e além disso as pessoas que convivem acabam por ficarem “parecidas”. Não podemos fixar a imitação em seu sentido negativo,já que através da imitação podemos desenvolver aspectos nossos que se não fossem despertados pela imitação talvez nunca tomassem forma. Não podemos negar o fato de que o meio também oferece instrumentos para que nos moldemos.

    - Eco ficando com problemas na fala, fica com problemas de Identidade.

    Através da linguagem expressamos quem somos, podemos nos diferenciar, podemos nos defender, podemos amar. E, através da linguagem podemos nos conhecer, ao falar organizamos nossos pensamentos, isso, Eco não podia. “Identidade própria implica em uma entidade distinta do meio e de outras pessoas. Isto implica numa essencial mesmice, ser único, ter uma unidade interna, personalidade..... Eco não é própria ou alguém, nem é ela separada do meio. ( Ela necessita do meio para falar).”

    Inclusive podemos pensar que ela acaba por ficar misturada com o meio, já que somente pode falar através dele. Está envolvida com tudo, em seu castigo não pode escolher ( a característica de termos uma identidade é a capacidade de escolher) o que irá repetir, ecoará tudo. Este é um aspecto que a maioria dos comentadores , a não ser Patricia Berry, não falam: o que dizer de seu envolvimento com PAN (tudo)?
    Eco acaba estando envolvida com tudo, Pã é tudo, é tido como o “deus do Todo”.. Pã a deseja, Tudo deseja Eco. E não é assim em nossas vidas? Tudo deseja ser reconhecido, ter a garantia de ter sido , se não compreendido, no mínimo ouvido.

    “Pan deseja Eco. Podemos dizer que tudo que é desejável, tudo que
    deseja, deseja um eco. Dentro do desejo, dentro da paixão de Pan,
    há a paixão por Eco.”

    A autora continua nos levando a pensar que o fato de Eco ter rejeitado Pã tem a ver com o fato de que nem tudo por ser “ecoado”, não podemos ser empáticos o tempo todo, não podemos ser psicológicos o tempo todo e em todos os lugares.Por isso Eco busca Narciso,o exagero do singular, do fechado em si próprio.

    - Donaldo Schuler diz : “ A rima obrigatória não foi a maior desgraça de Eco. Pior do que isso foi conhecer Narciso.”

    Acredito que não poderia deixar de ser diferente, a busca do que lhe falta e, pelo que vimos, a busca daquilo que lhe possibilita ser ela : um eco. Somente podemos ecoar as singularidades das pessoas.
    Obviamente, não deixemos de lado as dificuldades de Eco: Seria ela “narcisista”?

    “... bate no que é pleno. O pleno, por sua própria natureza, degrada.
    Ante o pleno, o não-pleno perde a estabilidade. Eco, não podendo
    avançar até o pleno, regride. A lesão física, já presente na mutilação da fala, agrava-se até a imobilidade completa, a rigidez da rocha. ........ A rocha ergue-se como eco petrificado da plenitude narcísica.”

    Narciso é “pleno”,pelo menos, tenta mostrar que é, não quer se envolver com ninguém; sabiamente Donaldo Schuler coloca que o pleno, por sua natureza, degrada. Realmente o pleno, o equilíbrio estático só pode ser a degradação, inclusive em física um sistema que não estabelece trocas com o meio externo ( sistema entrópico) é um sistema em degradação! Mas um sistema aberto demais, que nada conserva de si próprio, que é o caso de Eco, é um sistema caótico; nada pode conter, é muito instável. Realmente, Eco fica tão narcísica quanto Narciso, não aguentou ouvir o não por não ter estrutura interna, por depender do outro:

    “Narcísico é o auto-aniquilamento motivado pela recusa. Eco e Narciso definham do mesmo mal.”


    - Eco acaba ficando dotada de um monólogo exterior e Narciso de um monólogo interior, falando apenas consigo próprio, assim como as intenções da fala de Eco só ela as conhece!
    Podemos pensar que Eco e Narciso são complicações , complementações de uma mesma situação humana, de um mesmo arquétipo: não podemos falar de diálogo externo sem falar
    posted by iSygrun Woelundr @ 9:53 AM  
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